“Mas quando os prenderem, não se preocupem quanto ao que dizer, ou como dizê-lo. Naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês”. –
Mateus 10.19-20
“Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade”. –
2 Timóteo 2.15(Desde já direi que estou tirando dois textos de seu contextos diretos e fazendo uma gororoba doida, pois eles são aparentemente antagônicos entre si. Só quero que entendam que não viso utilizá-los como pretexto para criação de alguma doutrina sem pé nem cabeça.)
Vou escrever sobre algo que desde muito tempo atrás eu notei nas (diversas) denominações que passei:
O pastor deve preparar ou não sua mensagem com antecedência?Minhas ponderações poderão soar meio simplistas mas – à grosso modo – se costuma dizer que os cristãos mais
“espirituais”,
“pentecostais” (sou ambos, sem estar nos extremos!) defendem que o pastor não pode preparar sua mensagem com antecedência pelo fato dele não saber quem estará na igreja na hora em que ele estará ministrando a palavra.
Isso se deve ao fato de que o pastor poderá estar pregando e, num determinado momento do culto, alguém em especial estará precisando de uma palavra específica para sua realidade. Com a mensagem pronta, o pregador estará engessado e não terá esta espontaneidade em dar uma guinada no que ele estava pregando para atender esta necessidade específica.
Por muitos anos acreditei piamente desta forma, até o dia em que comecei a notar que certos pastores ("pentecostais" como o Gondim ou "tradicionais" como o Pedrão), traziam o esboço de sua mensagem pronta e começava a despejar fogo do céu na minha cabeça ou na cabeça de algum visitante que estivesse pela primeira vez na igreja. Cansei de ver isso acontecer e ficava intrigado com aquilo.
Oras, se a mensagem estava pronta desde a quarta-feira para ser pregada no domingo e eu convidei uma pessoa para ir à igreja na quinta, como aquilo poderia acontecer?
Passaram-se os anos, vi e vivi muita coisa desde que iniciei minha caminhada com Cristo e comecei a entender o que se passava. Na verdade é algo tão simples que pode soar ridículo, mas estou a fim de escrever sobre isso desde a mensagem de domingo passado na
CBRio, ministrada pelo Pr. Pedrão. Para isso, se faz necessário que eu conte o que aconteceu na véspera do Natal.
Um casal muito amigo nosso aqui do RJ ficou muito triste com nossa mudança de apartamento. Éramos vizinhos de porta no antigo prédio em que morávamos e estávamos alguns dias sem nos ver desde a mudança. No dia 24 pela manhã, mesmo sem estar com muita grana no bolso, resolvemos comprar uma pequena lembrança para eles para que a data não passasse despercebida.
Após embrulharmos os dois presentes, ligamos para eles para combinarmos de ir a seu apartamento. Eles estavam fazendo compras e disseram que nos ligariam assim que chegassem em casa. Ao chegarem, ligaram chamando a gente para passarmos o Natal na casa do irmão de nossa amiga, homem super influente e bem relacionado com a nata da sociedade carioca. Já o conhecia, mas este tipo de situação não me atrai. Como a Cilene que tinha atendido o telefone e já tinha falado com ela por alguns minutos antes de me passar, peguei o bonde andando, com as mãos sujas do rango que estava preparando.
Ao atender ao telefone (estava preparando nossa
“ceia”: batatas assadas recheadas; depois passo a receita), fui intimado a ir com eles. A fim de ir eu não estava mas pensei que a Cil tinha acertado tudo. Concordei e devolvi o telefone, à esta altura todo sujo de bacon das minhas mãos. Elas conversaram mais alguns minutos e desligaram. Ao desligar, a Cilene me disse:
“amor, amanhã eu estou de plantão no hospital, tenho que acordar às 5:30h! Não dá para ir, por quê você disse que iríamos?”Adoro quando isso acontece: Literalmente
“telefone sem fio”. Disse que tinha entendido que ela já tinha acertado de ir ao jantar hiper-mega-blaster sofisticado e por esta razão concordei em ir. Depois de
“conversarmos” a respeito, decidimos voltar atrás e dizer que não iríamos. Pegamos imediatamente os presentes e fomos à casa deles antes do horário que passariam em nossa casa (sou estrategista, li muitas vezes
“A Arte da Guerra”, risos...) para pegarmos eles antes de criarem mais expectativas.
O que não esperava é que eles tiveram o mesmo
“feeling” e estavam vindo para nossa casa! Nos encontramos literalmente no meio do caminho e decidimos voltar ao nosso apartamento. Conversamos, demos risada, tomamos vinho e, às 22:30h, eles falaram:
“Vão trocar de roupa!”. O grosso que aqui vos fala disse:
“Gente, desculpe mas nós não vamos, a Cilene trabalha amanhã de manhã”.Eles ficaram de queixo caído. Eu sou f%$#@! cara, quando digo não é
NÃO. Expliquei o desencontro de informações, o problema da Cilene ter que acordar cedo mas eles (na verdade ELE, o marido dela quem insistia mais) estavam batendo forte e colocado para irmos na festa. Disse que o prefeito estaria lá, disse que a varanda do cara era gigantesca, que seria isso, aquilo e aquilo outro e eu simplesmente dizia:
“Não dá gente, não vamos...” Um determinado momento ele começou a falar:
“João, este apartamento que você alugou não vai cair (no Recreio muitas obras não são legalizadas, depois explico), já falei com conhecidos na prefeitura e ela está legalizada. O Eduardo Paes vai estar lá, vamos pegar por escrito dele que este prédio não vai cair. Vou vender um apartamento meu e vou comprar este apartamento para você de presente! ” Nesta hora caiu a ficha e fui mais enfático:
“Cara (estou evitando escrever o nome dele), nós não vamos, não dá..”Ele mudou a estratégia e começou a falar:
“João, era para estarmos lá desde as 22 mas viemos aqui para levar vocês. Vocês vão!” À medida que ele
“argumentava” eu discernia algo maior e mais pesado no ar. Convencido de que aquela não era a vontade de Deus (peguei pesado né?) disse:
“Cara, não faz isso, não insista mais. Agradeço o convite mas não podemos aceitar. A Cilene tem compromisso amanhã.”Peguei os dois presentes e dei a eles. Ele disse que nem ia abrir o presente. Estava transtornado. Fiquei muito,
MUITO triste com a postura que este meu amigo teve. Quando saíram, senti que havia sido travada uma batalha e que Deus tinha nos dado vitória. Estava arrepiado e aliviado, apesar de emocionalmente arrasado.
Subimos ao nosso apartamento. Peguei uma taça de vinho, fui até a cozinha e acabei de preparar nossa modesta e deliciosa ceia de Natal. Coloquei a mesa na varanda, acendemos uma vela (que há mais de dois anos esperava um momento especial para ser acesa, tadinha...), pegamos nossas taças e brindamos. Como sempre costumo fazer,
SEMPRE que brindo com vinho parafraseio o que nos foi ensinado pelo Senhor:
“Em memória de Jesus, até que Ele venha” (aprendam com o pastor João, risos...).
Comecei a chorar. A presença de Deus era muito forte. Critiquem-me a vontade, mas ficou claro para mim que tínhamos acabado de receber um livramento de Deus. O que iria acontecer exatamente eu não sei, só sei que era para estar só eu e minha pretinha na varanda virando o dia 24 para o dia 25 de Dezembro de 2010 a sós com Ele.
Meu amigo não se deu conta, mas agiu exatamente como o diabo que Paulo Coelho diz ter encontrado no Caminho de Santiago de Compostela na forma de um menino que se apresentou pedindo para ele devolver sua bola. No início pediu, depois chorou, ao final ameaçou (costumo dizer que até um relógio parado duas vezes por dia está certo, aliado ao
“provai de tudo, retém o que é bom” das Escrituras).
Caramba! Dei a volta ao mundo com o que aconteceu só para concluir com meu raciocínio inicial: Isso aconteceu na véspera do Natal, sexta feira. Domingo, estava na CBRio e o Pedrão pregou muito. Nem lembro de tudo o que ele falou, mas uma coisa marcou profundamente meu espírito. Ele disse:
“Em 2011, de todos os dons que o Espírito pode nos presentear, peço à Deus que Ele conceda a todos nós o DISCERNIMENTO. Que ouçamos alguém falar conosco e, no mesmo momento, possamos dizer para nós mesmos: Não, isso não vem de Deus, não é Ele que está falando comigo...”Mensagem preparada com antecedência (o Pedrão manda email com os títulos das mensagens que serão pregadas antes de chegar o fim de semana), falando de algo que aconteceu depois que ele as preparou. Pedrão, Batista até os ossos, não pentecostal...
O que quero dizer com isso? Simplesmente que o homem finito e limitado prepara sua mensagem, mas quem o influencia é o Espírito Santo de Deus. Por acaso, Ele é eterno e já sabe o quê falar para quem Ele já sabe que estará na igreja naquele dia.
É assim que eu creio.